Já há muito que não escrevia no lado de cá. Passo por aqui todos os dias, reconheço os cantos à casa, mas normalmente fico por pouco tempo. Ninguém chega sequer a dar pela minha presença. Não há um motivo especial. Apenas sinto que estou a invadir um espaço que não é meu. Às vezes é assim... abrem-nos as portas de casa, tratam-nos como reis, deixam-nos à vontade, mas mesmo assim sentimo-nos uma visita de ocasião. Este lado é o da Sara. Foi ela que o construiu, que lhe dedicou o tempo, carinho e força. O tempo que nunca tem, mas que arranja sempre; o carinho que só ela sabe dar; a força com que nasceu. Aqui sou como uma mulher a dias. Tenho a chave de casa e é-me permitido entrar sempre que for preciso. Posso circular à vontade, limpar o pó, alterar a disposição dos móveis, mas nunca passar cá a noite. Não é um papel que me chateie. Até porque não é uma imposição, uma regra. Foi o papel que escolhi. Ou que me escolheu. Seja como for, se é para ser mulher a dias, que seja aqui, do lado de quem confia em mim o suficiente para me entregar as chaves de casa. Mesmo que só para limpar o pó de vez em quando. Muito de vez em quando.