Estamos as três no último ano de faculdade. Cinco anos depois, temos neurónios a menos, maluqueira e ideias a mais e prezamos a companhia umas das outras mais do que muita coisa. Quase não saímos, apostamos, sempre que podemos, em comida saudável (com uma ou outra batata frita lá escondida e uma goma para rematar), preferimos o capuccino ao cocktail (apesar da Roxo não dispensar o tango...) e grandes noites só mesmo com as outras duas, enroladas numa manta, no sofá da sala de alguém, a rir até não poder mais.
Ainda assim, os nossos vizinhos acham que somos "as típicas estudantes". Tudo bem... sobre o "típicas" é que tenho algumas dúvidas. Acham que fazemos barulho entre as 3 e as 6 da manhã, que falamos muito alto, que passamos os dias e as noites em festas, que trazemos estranhos para casa, que temos um ar suspeito. Passam a vida na janela a ver quem chega, saem de casa para espreitar, nas escadas, quem entra na nossa casa, aposto que dormem de copo encostado à parede para ouvir o que fazemos.
Compreendo-os. Já viram uma a estacionar o carro, abrir o capot e levar um cabo para casa debaixo do braço; outra com o carro todo esmurrado quase a espetar-se de frente contra as outras duas; a terceira a entrar sempre pela garagem; todas elas, todas as semanas, com malas enormes a subir os dois andares de escadas.
Juramos a toda a gente que não somos o que pensam, que mais "calmas" do que nós não pode haver, que são os vizinhos de cima a fazer o barulho todo.
E, mesmo assim, não percebem que, nos últimos dias, as únicas preocupações destas "típicas estudantes" foram não ter em casa porcarias para comer e ter ficado sem o AXN e a RAIuno no serviço da TVCabo.