Para ti

Quem não a conhece diz que é a palhacinha da família; quem sabe de que matéria é feita, diz que é tímida, às vezes até demais, principalmente quando se sente um peixe fora de água, como na exposição de pintura a que o pai nos levou um dia (lembras-te?).
Tem um sentido de humor imbatível, daqueles de levar às lágrimas, mesmo quando não apetece nada rir. Sabe o que dizer na hora certa, percebe sempre quando é melhor não dizer nada.
É chatinha, chatinha... quando quer. Principalmente quando sabe que irrita, mas que vai acabar tudo à gargalhada. Já aconteceu acabar tudo em lágrimas e portas a bater, é certo. Mas isso foi no tempo em que não sabiamos que éramos as melhores amigas, que éramos feitas uma da outra, as duas feitas do mesmo.
Cresceu no seio de uma rebeldia muito própria. No currículo tem um dente partido, algumas caras esmurradas e muito respeitinho, daquele... bonito. Tudo porque sempre se soube impôr.
Não é nenhuma dama de ferro, claro. É e será sempre, pelo menos para mim, uma menina. Que aparecia nas fotos de criança com as meias coloridas rasgadas no joelho, o cabelo em desalinho e as faces sempre rosadas... de jogar futebol.
Nunca cortou o cabelo à doida, nem enfiou feijões no nariz. Mas era traquinas... e bem.
Quando ficou adulta, mostrou ao mundo o lado doce que sempre teve. Dedicou anos de vida a crianças de 80 anos. Chorou rios daqueles compridos quando teve de os deixar.
Como tem a sorte e o íman da irmã, também lhe fizeram das boas. Puxaram-lhe o tapete, trocaram-lhe as voltas, atiraram-lhe umas coisas... mas ela lá continua, às vezes a tropeçar, mas continua.
Há quase dois anos, deu-me o dia mais bonito, feliz... e triste por que já passei. Casou. Eu sei, eu sei... um casamento é sempre um dia de alegria. Mas que raio, morei com ela 21 anos da minha vida. Com discussões, gargalhadas, lágrimas, maluqueira, não interessa. Ela estava sempre ali, no quarto ao lado, no outro lado da cama, sentada no sofá, a comer as minhas sandes.
Não é segredo para ninguém a figurinha triste que fiz a cerimónia inteira. Não era tristeza, a sério. Era só alegria. Pela minha menina que cortava (finalmente!) o cordão umbilical.
Dois anos depois... surprise, surprise! O cordão umbilical está intacto... Se querem mesmo saber, o segredo está na "saquinha".
Hoje somos mais cúmplices do que algumas vez pensámos poder ser. E ela, com a pessoa que escolheu ter ao lado, está quase a fazer-me feliz, mais uma vez. Depois do Verão, aí vem um bebé para alegrar a vida da mana, que anda a reclamar há uma data de tempo.
Na verdade, tenho poucas razões para pedir. Se não fosse ela, não era metade daquilo que me orgulho de ser.
Nasceu a 15 de Junho de 1977 e hoje faz 28 anos. Estás uma mulherzinha! Parabéns, Lídia.